Acredita-se desde há muito tempo que a exposição frequente a microrganismos reduz o risco de desenvolver uma alergia. Este fenómeno ficou conhecido como “Hipótese da Higiene”.
No entanto, um artigo recente de investigadores do Instituto Karolinska, publicado na Science Immunology, veio questionar esta noção amplamente aceite ao mostrar que ratos recém-nascidos com elevada exposição a microrganismos têm igual ou grande probabilidade de desenvolver uma alergia mais tarde na vida.
O mecanismo pelo qual os microrganismos desenvolvem ou iniciam alergias tem sido um tema de interesse recente. Alguns trabalhos sugeriram que as infecções têm a capacidade de reduzir os anticorpos inflamatórios dirigidos contra os alergénios, alterando assim a resposta das células imunológicas. Também se admitia que as bactérias no trato gastrointestinal podiam reduzir a inflamação no corpo em resposta a agentes patogénicos. Os autores observaram reações alérgicas em ratos altamente expostos a infecções, designados como “sujos” em comparação com ratos, designados de “limpos” com baixas taxas de infecções. Os autores não encontraram nenhuma diferença significativa entre a resposta de anticorpos que alteraria a resposta imunológica no sentido de favorecer ou prevenir o desenvolvimento de uma alergia. Eles também observaram que as respostas anti-inflamatórias desencadeadas por bactérias “boas” não “desligavam” uma reacção imune alérgica. Curiosamente, os ratos “sujos” desenvolveram sinais de inflamação e resposta alérgica quando expostos a alergénios, demonstrando que a elevada exposição a microrganismos não tinha beneficiado o sistema imunitário.
Um dos coautores do estudo refere que construir um sistema imunológico no início do desenvolvimento infantil não é tão simples como “sujar-se”. ‘. Embora em alguns casos a exposição seja importante e auxilie o sistema imunitário, não é um fenómeno geral que se aplica a todos os cenários.
Nas experiências conduzidas neste estudo, ambos os grupos eram idênticos na sua composição genética. A única diferença foi a elevada exposição a microrganismos em ratos “sujos” desde o nascimento. Os ratos “sujos” imitam mais o sistema imunológico humano devido ao ambiente ao qual estão expostos, permitindo de certo modo extrapolar para humanos, percebendo melhor a forma como as alergias surgem.
Em ensaios clínicos recentes, investigadores tentaram conter e mediar as respostas inflamatórias em pacientes com alergias, tratando-as como infecções anti-inflamatórias. Exemplo disso são as cesarianas em que os recém-nascidos recebem transplantes bacterianos com o objectivo de promover bactérias boas no trato gastrointestinal do bebé e contribuir positivamente para a saúde futura da criança.
O estudo ajuda a fornecer informações sobre a forma como as alergias se desenvolvem e demonstra que a alta exposição a microrganismos no início do período pós-natal nem sempre é benéfica. Depende do tipo de microrganismo e deve ser encontrado nos contextos certos para que a pessoa possa beneficiar dele. Este estudo melhora nossa compreensão do papel que os microrganismos desempenham na facilitação do sistema imunológico humano. Fornece, além disso, mais ampla evidência de que os microrganismos podem ser benéficos para o corpo na mediação e controlo de doenças.