Uma vacina para a prevenção do trato urinário
Infecções do trato urinário são comuns; estima-se que metade das mulheres contrairá pelo menos uma vez na vida uma ITU. Estas infecções também estão associadas ao uso de cateteres, e a uma maior morbilidade no caso de uso prolongado. Os antibióticos são frequentemente prescritos para prevenir ITUs nas pessoas que apresentam maior risco (pessoas algaliadas), mas o uso prolongado de antibióticos tem efeitos secundários, nomeadamente a disrupção do microbioma, contribuindo também para o desenvolvimento de resistência aos antimicrobianos.
A resistência aos antibióticos é hoje um problema no tratamento das ITUs. Estima-se que as bactérias Escherichia coli uropatogénicas (UPEC) são responsáveis por cerca de 80% das ITUs não complicadas e estão a desenvolver resistência aos antibióticos normalmente usados para tratar ITUs, nomeadamente ampicilina, ciprofloxacina e sulfametoxazol + trimetoprima.
Algumas vacinas para bactérias comuns em ITU já foram desenvolvidas, mas não tiveram os resultados esperados em testes na geração de imunidade ou requeriam regimes de dosagem longos e impraticáveis.
Os autores de um estudo publicado na revista Science Advances procuraram criar uma vacina que funcionasse contra a E coli que causa ITUs sem interferir com o microbioma e que funcionasse com uma dose sublingual. A resposta imune desencadeada por tal vacina também teria que ser activa no trato urinário, o que não era fácil de conseguir.
O referido estudo apresenta a criação de um tipo de nanofibra que consegue atravessar a mucosa do trato urinário e desencadeia uma resposta imune ao expor o sistema imunológico a três peptídeos encontrados nas bactérias patogénicas que podem causar ITUs. A vacina pode ser administrada oralmente sob a forma de um comprimido sublingual.
Testada em modelos murinos e em coelhos, a vacina a revelou-se igualmente eficaz na prevenção de infecções do trato urinário em relação aos antibióticos, mas sem os efeitos secundários dos últimos no tracto gastrointestinal. Num modelo murino com sepsis provocada por UPEC, a vacina esteve associada à melhoria dos sintomas, permitindo que mais ratos sobrevivessem à infecção.
Face aos resultados animadores em modelos animais, os autores prosseguem agora com trabalhos que visam nomeadamente testar a via de administração, eficácia e segurança em humanos.
Sendo que 20% restantes das ITUs são causadas por uma variedade de bactérias, incluindo Klebsiella, Proteus, Pseudomonas e Staphylococcus, o desenho de uma vacina “universal” afigura-se difícil, em particular numa abordagem deste tipo que usa epítopos alvos que não são partilhados por bactérias não patogénicas.
Outra questão ainda por responder está relacionada com a eficácia da vacina na população alvo (indivíduos com ITUs recorrentes), tendo em conta que os modelos de infecção usados nunca tinha tido antes qualquer infecção.
Um artigo cuja leitura recomendamos pela estratégia de vacinação inovadora e pelos resultados notáveis alcançados