Bactérias intestinais podem potenciar ou prevenir a diabetes

22/02/2024

O homem tem no seu trato gastrointestinal triliões de bactérias, já tendo sido estabelecida uma relação entre microbioma intestinal e estado de saúde. Estudos demonstraram que os microbioma intestinal é mais saudável ​​quando composto por bactérias mais diversas, por exemplo, e que desequilíbrios no microbioma, ou disbiose, estão associados a doenças. Os tipos específicos de bactérias no intestino e a forma exacta como certas estirpes influenciam o desenvolvimento de doenças específicas é hoje alvo de maior estudo. Um recente artigo publicado na revista Diabetes identificou duas estirpes de bactérias intestinais que parecem afectar a sensibilidade à insulina.

Múltiplos estudos associaram o microbioma a doenças metabólicas. Trabalhos anteriores mostraram por exemplo que indivíduos que apresentam níveis mais baixos de bactérias que geram um ácido gordo denominado butirato, também não processam a insulina correctamente.

Neste novo estudo, uma bactéria chamada Coprococcus foi encontrada em níveis mais elevados em indivíduos com aparente maior sensibilidade à insulina, enquanto níveis mais elevados de uma bactéria chamada Flavonifractor foram encontrados em indivíduos tendencialmente menos sensíveis à insulina. O Coprococcus poderá proteger as pessoas da diabetes tipo II, enquanto o Flavonifractor poderá potenciar o seu desenvolvimento.

É importante perceber se as bactérias podem ou não provocar a doença ou se surgem diferenças no microbioma após a presença da doença. O principal autor do estudo, Mark Goodarzi, também é investigador principal de um estudo multicêntrico chamado Estudo de Avaliação Longitudinal de Microbioma e Insulina (MILES), que tem como objetivo determinar se factores do microbioma provocam diabetes ou se a diabetes altera o microbioma.

Desde 2018, os investigadores do MILES têm avaliado dados de adultos negros e brancos não hispânicos com idades entre os 40 e os 80 anos. O estudo focou-se em 352 voluntários sem diagnóstico de diabetes. Esses voluntários forneceram amostras de fezes, realizaram prova de tolerância à glicose (PTG) e forneceram outras dados, como hábitos alimentares. Desse grupo, 135 tinham pré-diabetes e 28 tinham uma PTG considerados no limite de um diagnóstico de diabetes.

Os autores examinaram 36 bactérias intestinais que geravam butirato nos participantes do estudo (a partir de amostras de fezes) e descobriram que o Coprococcus e bactérias relacionadas eram benéficos para a sensibilidade à insulina.

Embora também gere butirato, o Flavonifractor foi associado à resistência à insulina, o que corrobora resultados de trabalhos anteriores em que foram encontrados níveis mais elevados de Flavonifrator em pessoas diabéticas. Estas conclusões ganharam outra dimensão depois dos investigadores controlarem factores que afetam o desenvolvimento do diabetes, como o sexo, a raça, o índice de massa corporal e a idade.

Os autores do estudo alertam, no entanto, que as pessoas ainda não devem tentar alterar o seu microbioma para reduzir o risco de diabetes.

“No que diz respeito à ideia de tomar probióticos, isso seria realmente um tanto experimental”, refere o autor principal. Mais trabalhos são necessários para determinar exactamente quais bactérias devem ser alteradas “… mas isso acontecerá, provavelmente nos próximos cinco a dez anos”.